Acredito que a construção do que somos é feita aos poucos, tal qual a de uma casa. Começa pela escolha do terreno e o assentamento das fundações, que são nossa família e o campo de valores onde começa nossa trajetória.
Segue depois pelas escolhas do layout e funcionalidade, pela prioridade das coisas: uma cozinha maior ou um quarto extra? Gosto de cores quente ou frias? Quero ser engenheiro ou massagista? E assim vamos pouco a pouco nos definindo.
Mas assim como a casa, estamos em constante evolução, abertos a novos “puxadinhos” ou reformas que praticamente demolem tudo que havia antes para se recomeçar do zero…
Quando procuramos respostas a questões profundas no cotidiano da vida, podemos nos surpreender positivamente como tudo é sempre mais claro, mais simples e mais descomplicado do que parece.
Mas por quê essa lenga lenga toda inicial? Para falar de escolhas que fiz recentemente e que com certeza redefiniram minha trajetória e reformularam conceitos que eu, um dia acreditei, que seriam imutáveis… (ah que tolinha eu fui!)
Sempre tive meu caminho pautado pela arte. Cresci assistindo minha mãe caprichosa, executando com paixão seus diversos trabalhos manuais. Esse foi meu terreno…
Escolhi caminhos avessos e equivocados, mas a semente sempre esteve lá.
Me encantei pelos caminhos conceituais, polêmicos e praticamente inacessíveis da arte contemporânea, sobretudo a brasileira, com a qual estive envolvida por muitos anos na minha vida paulistana.
Mas sabe aquele amor verdadeiro? Não paixão temporária de verão, mas amor que faz seu espírito inteiro tremer e faz sua existência valer a pena? Pois é, esse amor começou a nascer nas minhas solitárias idas à National Gallery em Washington DC, onde eu encontrava abrigo e conforto para a minha confusa vida de imigrante.
Tantas horas dentro daquelas galerias e um encantamento que cada vez mais crescia com os mestres: Vermmer, Rembrandt, Leonardo, Dürer, Cézanne, Courbet, Sargent… e todos que têm na artesania, no esforço exaustivo de pintar e desenhar, a sua marca registrada.
Que coisa antiquada, cansativa e ultrapassada – dirão muitos! E os entendo.
Mas precisava pausar. Esse mundo frenético e midiático, de milhares de imagens por segundo, estava me sufocando. Fazendo com que eu perdesse o sentido da vida. Algo muito fora de ordem, para o meu ser, para os meus padrões.
Criei coragem, apontei os lápis, limpei os pincéis e comecei a estudar ferozmente essa atividade quase inatingível: pintar e desenhar com calma, com apuro, com precisão.
Gastar horas, dias, olhando para um mesmo objeto, descobrindo a cada olhar, novas relações de cores, tonalidades e temperaturas. Tentar capturar com as minhas mãos e o meu fazer, aquilo que me emociona, e congelar momentos que seriam facilmente perdidos no oceano do Instagram.
Encontrei meus pares. Encontrei minha tribo e fiquei muito feliz em saber que há muitos como eu, nessa mesma busca. Não somos antiquados ou ultrapassados. Somos também contemporâneos, uma força de resistência nesse mundo de efemeridades.
Ainda que tardiamente, finalmente descobri como quero construir a minha casa. Através da arte, essa palavra abrangente, que tantas vezes curou minhas dores.
Sigamos, sempre fiéis e resistentes aos nossos princípios!
Até a próxima.
Ô Gabriela, cada vez que leio um
post seu mais te admiro e muito me identifico com você. Admiro o seu tempo, persistência, naturalidade, a forma com que você se “auto-conforta” (indo à galeria de arte, que rico isso!), e a forma como que aos poucos você foi se descobrindo profissionalmente aqui nos EUA. Como você, sou imigrante. E estou na minha busca ou redefinição profissional. Estou caminhando! A minha arte está na educação por enquanto, muito o que descobrir e aprender ainda.
Obrigada pelo que você escreve e compartilha. Nutre a alma !
Abraço, Sara
CurtirCurtir