Tempo. Acho que esse é um dos recursos mais preciosos de nossa existência. Fazemos péssimo uso dele…infelizmente.
Eu fui agraciada, tenho tempo, um luxo quase que imensurável. O excesso de tempo coincide com o excesso de ideias e pensamentos, que vagueiam minha mente até latejar minhas têmporas. Ideias, conclusões, argumentos que nascem e morrem dentro de mim, muitas vezes até lutando contra eles mesmos. Confuso, eu sei. Ultimamente tenho sofrido. A cobrança eterna das mídias sociais, estão criando uma culpa em mim. O tempo precisa ser empregado! Como?
Desenho. Apago. Entro em pânico perante a tela branca do computador. As palavras, que antes saíam com tremenda facilidade, parecem travar no fundo da garganta. Já tive crises de ansiedade, crises de depressão. Sou escolada e conheço de longe os sintomas. Sinto a onda se aproximar….
Mas dessa vez quero resistir, quero tirar dela o que melhor puder, no jeito mais oportunista possível. Então resolvi me entregar e pintar aquilo que anda me consumindo: um galo.
Sim. Estou pintando um galo. Um galo lindo que vi em Kauai, a ilha mais remota do Havaí, que tive o privilégio de visitar há algumas semanas.
Vi também o mar, vi as rochas, vi a vida marinha em esplendor. Mas vi galos, centenas deles. Andando livremente pelas ruas, estradas, praias e até restaurantes. Todos lindos, coloridos, com uma plumagem típica de uma mesma família, uma mesma raça… seriam todos primos?
Em praias esperamos ver gaivotas, surfistas, crianças, barcos, biquínis… mas galos?
Desafiando a lógica eles estavam lá, alguns com suas galinhas, mas a maioria, independentes. Sem família, sem cercas, sem limites: livres.
Acordava cedinho, com o nascer do sol. Tenho sono leve e o fuso não ajudava. Mas mais do que tudo, acordava com eles, cantando, anunciando um novo dia.
Várias vezes ao dia ouvia o mesmo cacarejar. Engraçado, na minha ignorância pensava que galos só cantavam ao amanhecer…. não, eles cantam o dia I N T E I R O.
Me acostumei. Gostava e agora sinto saudades. Foram, de certa forma, minha companhia. Claro que tirei milhares de fotos.
Não foram suficientes. Em algum cantinho do meu cérebro, uma tecla ficava batendo. Preciso pintar o galo.
Está saindo, quase tão lindo quanto ao vivo. (Desculpem, depois dos 40, modéstia é hipocrisia!)
Vou fazer em aquarela e se criar coragem em óleo também. Para quê? Para quem?
Não importa. A arte me ensinou que o fim nunca foi o mais importante, mas sim o percurso.
Meu caminho agora é esse, me perder nas texturas das penas e cores. Perceber, através do meu pincel, que a vida tem encantos ordinários, que valem mais que qualquer coisa. Um galo. Cores. Que me fizeram pausar esse momento conturbado que vivemos e trouxeram de volta o equilíbrio da minha respiração.
Obrigada Kauai, por mais esse presente.
Continuemos… até breve! 😉
Gostei muito de sua experiência e me identifiquei demais pois estive em Kauai e realmente é um lugar mágico… juntando tudo com arte, fica mais lindo ainda. Obrigado pelo relato! =)
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Que bacana que vc de identificou! A ideia é essa mesmo, trocar impressões e enriquecer a vida! 🙂
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