
31 de dezembro, ao redor do mundo pessoas começam seus rituais, dos mais variados tipos, todos se preparando para a virada do ano, o recomeçar. Nessa energia gigantesca que envolve o planeta, planos são escritos, sonhos são compartilhados e promessas são feitas. Janeiro começa e muito disso tudo vai parar esquecido em algum canto da vida.
Eu já gosto de direcionar minha energia para o meu ano novo particular. Tudo começa no dia 11 de julho, véspera do meu aniversário. Fico nostálgica, pensativa e normalmente olhando para trás, para descobrir o que deu certo e o que precisa ser modificado.
Assim como quase todo mundo, esqueço dos meus planos e promessas e acabo deixando tudo para depois, no decorrer dos dias que se seguem.
Mas agora é diferente, são quarenta e um anos que batem à minha porta. Isso mesmo, 40 + 1 ! Já cruzei a linha dos enta e com certeza só sairei dela agora para uma viagem desconhecida.
Essa sensação de finitude começa a pesar e me dou conta de que meu tempo está diminuindo e contando contra mim.
Não dá para se auto-enganar: a pele já não é mais a mesma, linhas e vincos ao redor dos olhos e mechas brancas se multiplicando na cabeça. O fôlego acaba mais rápido e foi-se embora a flexibilidade de pular um muro ou subir em uma árvore.
Mas a mudança mais significativa não está na embalagem, está na alma. A vista piora, mas parece que enxergo melhor. Coisas que tinham grande importância parecem bobagens ao passo que miudezas do cotidiano ganham uma enorme dimensão. Claro que dá vontade de parar o tempo e congelar, evitando o inevitável. Bobagens até passaram pela minha cabeça, como a vontade de ser mãe de novo (!), até eu perceber que não queria mais um filho, queria meus trinta de volta.
Não dá para ser hipócrita e mergulhar nesses chavões tão cafonas de hoje em dia, como os “40 são os novos 20” , “4.1”e bla’bláblá.
40 não é 30. Acorda! Nada funciona mais como nos trinta, algumas coisas pioram e muito! Mas a graça da vida é essa porque muita coisa melhora também. Cada ano, cada fase tem seu encanto. O medo vai diminuindo e a vontade de nos agradarmos em primeiro lugar vai se tornando o mais importante. Passamos a nos conhecer melhor e a nos respeitarmos mais.
Quem nasceu em meados dos anos 70 e início dos anos 80 sabe bem do que estou falando. Passamos por uma transformação assustadora. Do telefone com extensão para os celulares. Da enciclopédia Barsa para a internet. Dos caderninhos de enquete e agendas-diário para o Facebook…. Assistimos de camarote ao mundo mudando e as relações também. Tudo isso agrega à nossa bagagem e as gerações mais novas, dos vinte e poucos anos não saberão o que era ter hora para ligar para a melhor amiga, ou nunca mais ter notícias do amor de verão.
Esse é o lado bom, ser testemunha das transformações do tempo e da evolução da vida. Ter histórias para contar, lembranças para visitar e ainda tempo para cultivar novos sonhos.
A vida é agora e cada minuto conta. Não dá para deixar nada para depois, nem mesmo aquela mensagem que ficamos adiando eternamente em mandar – essa é pra vc amiga 😉 . Eu por exemplo, estava acomodada em um oceano de ostracismo. Casa arrumada, filhas e marido, um emprego meia-boca que me ocupava, situação econômica estabelecida e mais nada de muito significativo. Não tive coragem de sacudir e jogar tudo para o alto, mas a vida foi generosa e me virou de ponta cabeça.
Mudei de país, mudei de casa, aprendi uma nova língua, fiz amigos totalmente novos e diferentes e estou batalhando em um projeto profissional que acredito muito. Claro que doeu, claro que dá saudades, claro que morro de medo e dor de barriga às vezes, mas mais do que isso, sinto que estou preenchendo o caderno da minha vida com cores e significados. Mesmo que algumas páginas sejam cinzas de doer….
Já plantei a árvore, já tive as filhas e agora estou escrevendo o livro… vida que segue e que bom ter 41! QUARENTA E UM, e não essa breguice tosca de 4.1, por favor.
Viva!