Sobre tudo um pouco

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House and Trees (Maison et arbres) 1890-1894 Oil on canvas 25 5/8 x 31 7/8 in. (65.2 x 81 cm) The Barnes Foundation, Merion, Pennsylvania

Depois de um pequeno hiato, me deu vontade de escrever. Apesar de poucas semanas de pausa, muitas coisas aconteceram, sensação de que se passaram meses. Aliás, a vida fora do Brasil parece acontecer em outro tempo e espaço e tudo fica mais intenso, inclusive o passar do tempo. Provavelmente  porque aqui, nos EUA, temos que desempenhar inúmeros papéis. Ou como se diz: wear many hats! Não é fácil….

Tivemos uma ameaça de furacão! Sim, um furacão de proporções destruidoras como o famoso Katrina. Justiça seja feita, dessa vez o nome dado foi masculino: Joaquin. Ele não chegou a se aproximar perigosamente da costa leste americana, mas o suficiente para provocar uma interminável semana de chuva e dias feios. Quase emboloramos! Longos dias dentro de casa, com o cinza entrando pela janela….depois de um verão luminoso, foi um triste início de outono.

No meio desse cinza deprê mais uma notícia aterrorizante: um atirador mata 9 pessoas em uma faculdade no estado de Oregon. Chorei.

Impossível não me abalar e não me sentir afetada por isso. Um dos principais motivos que me fez embarcar nessa jornada foi a fuga da violência paulistana e a esperança em criar minhas filhas em um lugar mais seguro. Pois bem, não há tranquilidade nesse mundo.

Alguns amigos, mais esclarecidos que eu, dizem que esse tipo de psicopatia violenta é resultado da louca vida contemporânea, da pressão consumista, da falta de sentido real da vida. Nas palavras do próprio atirado de Oregon (o qual me recuso a nomear para não contribuir com seus minutos de fama nessa doença chamada sociedade do espetáculo!) ele afirma:

“The material world is a lie. Most people will spend hours standing in front of stores just to buy a new Iphone … I used to be like that, always concerned about what clothes I had, rather than whether or not I was happy. But not anymore.”

[O mundo material é uma mentira. A maioria das pessoas vai gastar horas esperando na frente das lojas só pra comprar um novo Iphone … Eu era assim, sempre preocupado com as roupas que eu tinha, em vez de se eu era feliz ou não. Mas agora não mais.]

Não sei se podemos culpar o peso do consumo e da aparência por atrocidades como essa. Culpo mais a sociedade americana, que insiste em armar seus cidadão até os dentes, e em um momento de loucura, ou mesmo tédio, uma alma infeliz tem nas mãos o que precisa para fazer uma grande m….

Enfim, essa discussão vai longe e não quero me ater a ela. O homem é bicho do homem, desde que o mundo é mundo! Motivos e justificativas para atrocidades estão sempre a disposição, quando me parece que o mais simples é: somos seres factíveis, com mais erros do que acertos. Por pouco, muito pouco, guerras, barbáries, mortes, torturas e toda sorte de violência contra o próprio homem são cometidas. Basta olhar para a história e ver que desde sempre o homem persegue o homem! Sem dó ou piedade, baseado apenas em suas ideologias, religiões, fé, ganância, poder, etc. etc. Infelizmente é uma lista infinita de motivos. Isso tudo antes da existência do Iphone….que fique claro!

Ao contrário do sentimento generalizado de desolação, tenho a teimosia em achar que estamos  evoluindo. Apesar dos meninos boiando no Mediterrâneo, apesar dos “gun shooters” norte-americanos, apesar da crise política do Brasil, apesar do caos sangrento do Oriente Médio, apesar da xenofobia europeia e da miséria africana. Sim, gosto de história, e afirmo: a humanidade já viveu dias piores.

Hoje estou aqui, sentada em frente ao meu blog, questionando, pensando e escrevendo livremente sobre isso. Posso até sair nas ruas da Virgínia, lugar onde fica a temível NRA ( National Riffle Association -responsável pelo maior lobby armamentista do planeta) com cartazes gritando pelo desarmamento e ninguém irá me prender por isso.

Estamos lentamente em evolução. Minhas filhas tem uma educação infinitamente mais sofisticada do que a que eu tive um dia. Todos tem o mundo ao alcance dos dedos. Campanhas humanitárias em prol dos refugiados pipocam em todos os cantos, o brasileiro finalmente se indigna pela corrupção! Vamos tentar ver o copo meio cheio?

É mês de outubro. Mês das crianças no Brasil e o Facebook começa a ficar infestado de retratos de criança. Não vou colocar o meu. Minha vida adulta e madura de quarentona é infinitamente mais interessante do que a da menina loirinha magricela de trancinhas do Colégio Virgem Poderosa. (acredite, eu estudei em um colégio com esse nome!)

Não sou saudosista, não perco tempo olhando para trás e me lamentando pelo que não volta mais. Aliás, essa é uma condição imprescindível se você pretende mudar de país.

Prefiro trocar minhas folhas e esperar pelo novo, assim como o outono! Welcome Fall! 😉

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Foto tirada por mim, no caminho da minha casa

PS: A respeito das duas imagens que ilustram esse post: o primeiro uma das mais lindas pinturas de Cézanne, que transmite primorosamente as cores e sensações do outono no hemisfério norte. A segunda, uma foto que tirei de uma casa perto da minha, que sempre me chamou a atenção, e só hoje, pude perceber o porquê! A semelhança de composição com o belíssimo trabalho de Cézanne, que estava arquivado nos rincões da minha memória… Ter tanta beleza assim pela vizinhança é um bom motivo pra sorrir não é não? 🙂

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Por Gabriela Albuquerque

Pois é, não é fácil se auto descrever, mas vamos lá! Brasileira, já na quarta década de vida, mãe de três meninas sensacionais e atualmente vivendo em Seattle , EUA. Arte, arte e arte. Foi o que sempre me moveu, mesmo quando eu nem tinha ainda noção disso. Sou aquela que organiza a vida com foco nas cores, formas e texturas. Os olhos, muito mais do que janelas da alma, são para mim, o meu passaporte para a vida. Olho tudo, e me motivo sempre, visualmente falando. Escrever também é um exercício diário. Uma necessidade gigante de me expressar e nada como esse aglomerado simpático de letrinhas, para fazer com que eu mesma clareie minhas ideias e pensamentos. Por isso o blog. Para escrever e compartilhar fatos, dores, delícias e experiências de uma mulher, que agora tão longe de casa, está sendo desafiada a redesenhar a própria vida! Seja bem vindo! Welcome to my thoughts....

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