
“Arte é a nossa arma. Cultura é a nossa forma de resistência. As vezes eu invejo os artistas ocidentais, por sua liberdade de expressão (…) mas também me preocupo com o Ocidente, porque a cultura corre o risco de ser apenas uma forma de entretenimento.” – Shirin Neshat.
Já falei mais de uma vez, mas não canso de repetir, Washington D.C. é um lugar privilegiado para os amantes de Arte. Na capital americana, existe uma infinidade de museus e todos são gratuitos.
Minha recente descoberta foi o Hirshhorn Museum, mais um museu do gigantesco complexo cultural Smithsonian. Esse museu foi fundado em 1974 por Joseph Hirshhorn, imigrante da Letônia, que cresceu no Brooklin – NY, com sua mãe viúva e seus 12 irmãos.

Sua coleção impressionante de arte moderna e contemporânea foi doada ao Smithsonian e logo abrigada em um maravilhoso prédio projetado por Gordon Bunshaft, ganhador do Pritzker Prêmio de Arquitetura.
Tudo no prédio é maravilhoso: sua construção redonda e forrada de painéis de vidro, seu pátio interno e seu jardim adjacente de esculturas modernas e contemporâneas.

Mas não quero descrever o museu. Isso está muito melhor explicado na página oficial que se encontra aqui: http://hirshhorn.si.edu
Quero falar de uma exposição que visitei lá e que foi uma daquelas de arrebatar! Trata-se da artista iraniana Shirin Neshat. Como mulher, como iranina, como exilada e como imigrante ela já teria muito para contar. Some-se a isso a sua delicadeza, o seu olhar, a sua captura do belo, mesmo no meio de tanta dor, tanta intolerância.

Quando a Arte atinge esse patamar, ela me arrasta. Povoa minhas ideias, meu coração e meu sono por dias. Aliás, passam- se anos e ainda consigo lembrar de imagens que vi em exposições memoráveis.
O mundo está em guerra. A guerra do oriente médio diz respeito a todos nós, cidadãos ocidentais. São mulheres, são crianças, são seres humanos que perderam o seu direito mais precioso: à vida!
O Brasil, apesar de não viver a realidade do fanatismo religioso, vê crescer a cada dia a intolerância e o desrespeito ao diferente. Essa dualidade que o país assiste atualmente é perigosíssima! “Cidadão de bem” que atropela e mata o bandido é saudado como herói na internet. Amigos queridos e próximos, que vejo todos os dias nas redes sociais, cegos pelo ódio, incitando a violência e a ideologia do olho por olho, dente por dente.
Estamos regredindo e isso me assusta. Evidente que a lambança política e o populismo barato, grandes responsáveis por toda a situação caótica que se vive no Brasil, também me enojam e me causam indignação. Contudo, essa indignação não pode ser maior do que a nossa humanidade.
As últimas semanas foram terríveis! A foto do menino Aylam na praia do Mediterrâneo escancarou um realidade cruel, que não se via desde os tempos nazistas. No Brasil, a decadência política e a falta de esperança, nos EUA, o menino Ashmed preso por ser criativo e muçulmano… Às vezes queria só parar o tempo, respirar e tomar um copo de água.
Para isso existe a Arte, que salva, que cura e mostra caminhos. Como esse de Shirin Neshat que sobreviveu ao horror e nos conta sua história. Existem ainda tantos outros, pequenos e anônimos artistas pelo mundo, que insistem em criar, pintar e desenhar a esperança.
A Arte é o que melhor evidencia a nossa humanidade. Que essa ferramenta poderosa sirva como luz a nos guiar nesses tempos de trevas.

Fiz minha parte, levei minhas filhas à exposição. Passamos alguns jantares discutindo intolerância religiosa e racial, o papel da mulher no mundo, viver em culturas diferentes. Todos esses tópicos surgiram a partir de Shirin Neshat e a ela sou grata. Através da arte estamos tentando construir cidadãos melhores, capazes de um dia fazer desse planeta um lugar menos inóspito…
PS: A fotografia que ilustra o cabeçalho desse post eu tirei outro dia, andando por D.C., quando me deparei com esse magnífico painel de Chagal, feito em 1969 e extremamente atual. Observem e tirem suas próprias conclusões:
